A Terapia Sutil Biodinâmica é uma abordagem inovadora dentro das terapias manuais, desenvolvida por Celina Tarantino ao longo de anos de estudo e prática. O surgimento dessa técnica foi um processo gradual, impulsionado por questionamentos e pela necessidade de encontrar uma abordagem mais eficaz e segura para tratar os animais.
O Início da Jornada
Tudo começou quando Celina realizou um curso de osteopatia nos Estados Unidos. Durante uma aula voltada para a manipulação de vísceras, um veterinário foi chamado para sedar um cavalo, permitindo que os alunos pudessem realizar os procedimentos de forma mecânica. Esse método gerou um questionamento imediato: como seria possível aplicar essa técnica em cavalos de alto valor sem a necessidade de sedação, minimizando riscos para os animais? Na osteopatia humana, movimentos mecânicos são usados para reposicionar órgãos como o fígado, mas a necessidade de sedação em animais parecia um obstáculo significativo.
Essa experiência fez com que Celina buscasse respostas em outras áreas. Ela percebeu que, diferentemente da osteopatia humana, o curso que estava fazendo não abordava a terapia crânio-sacral, que trabalha com o ritmo do líquor através de um toque extremamente leve (aproximadamente 5 gramas de pressão). Esse líquido percorre a medula espinhal e influencia o ritmo corporal como um todo. Determinada a aprofundar seus conhecimentos, Celina buscou uma formação em terapia crânio-sacral no Rio de Janeiro.
A Fusão de Técnicas e a Descoberta da Fáscia
Ao unir a osteopatia com a terapia crânio-sacral, Celina começou a estudar as conexões entre diferentes partes do corpo. Se a osteopatia clássica exigia que ela seguisse o sentido das conexões fasciais e das restrições, fazia sentido entender melhor os ligamentos que mantêm essas conexões. Sem ligamentos, não existiriam restrições mecânicas. Com isso, ela passou a investigar profundamente o papel da fáscia – um tecido conjuntivo que envolve músculos, órgãos e outras estruturas do corpo.
Essa descoberta abriu novos caminhos. Se era possível sentir a fáscia pelo corpo todo, nos diafragmas e nas áreas de rotação, então por que não seria possível sentir também os movimentos musculares e viscerais? Motivada por essa pergunta, Celina começou a realizar testes para mapear os movimentos naturais de cada órgão e víscera.
A Sistematização da Técnica e sua Aplicação em Competições Internacionais
Em 2016, após anos de experimentação e pesquisa, Celina conseguiu catalogar todas as descobertas feitas durante seus estudos e atendimentos. Logo em seguida, veio a oportunidade de colocar em prática tudo o que estava estudando nas Olimpíadas e Paralimpíadas. Principalmente nos cavalos da Paralimpíada, ela começou a aplicar a Terapia Sutil Biodinâmica e observou resultados expressivos na recuperação e performance dos animais.
A aceitação da técnica nessas competições abriu portas para Celina atuar em diversos eventos internacionais de alto nível. Ao longo dos anos, ela foi chamada para atuar em provas como o Global Dressage Festival em Wellington, os Jogos Equestres Mundiais (WEG) e o CHIO Aachen na Alemanha. Seu trabalho a levou de volta às Olimpíadas, marcando presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio e, mais recentemente, na preparação do time americano de dressage para as Olimpíadas de Paris.
A Ativação dos Mecanorreceptores e a Regulação do Sistema Nervoso Autônomo
Um dos aspectos mais fascinantes da Terapia Sutil Biodinâmica é a ativação dos mecanorreceptores presentes na derme através do toque sutil. Esses receptores são responsáveis por captar estímulos mecânicos e transmitir informações ao sistema nervoso, desempenhando um papel fundamental na percepção tátil e na regulação da resposta corporal.
A leve pressão aplicada durante a terapia estimula mecanorreceptores específicos, como os corpúsculos de Meissner e os corpúsculos de Pacini, e também estimula os nociceptores, que detectam variações sutis de pressão e vibração. Essa estimulação favorece a regulação do sistema nervoso autônomo, promovendo relaxamento, redução da dor e melhora na mobilidade. Além disso, a ativação desses receptores pode melhorar a circulação sanguínea e linfática, contribuindo para um funcionamento mais equilibrado do organismo.
O toque sutil também desempenha um papel essencial na regulação do sistema nervoso autônomo, auxiliando na transição da simpaticotonia (estado de alerta e estresse) para a parasimpaticotonia (estado de relaxamento e recuperação). A simpaticotonia, quando ativada de forma crônica, pode levar a tensões musculares, redução da circulação periférica e dificuldades no funcionamento dos órgãos internos. Ao induzir a parasimpaticotonia, a Terapia Sutil Biodinâmica promove uma série de benefícios, como a redução da frequência cardíaca, melhora na digestão, aumento da oxigenação dos tecidos e um estado geral de maior equilíbrio fisiológico. Isso é especialmente relevante para animais que sofrem de estresse crônico, dores persistentes ou dificuldades de recuperação.
Entre os benefícios clínicos observados na aplicação da Terapia Sutil Biodinâmica estão a diminuição de tensões musculares, a otimização da função visceral e a melhora da propriocepção, que auxilia na recuperação motora de animais em reabilitação. Esses efeitos reforçam o impacto positivo da terapia na saúde e bem-estar dos animais tratados.
Aceitação e Expansão
Inicialmente, houve ceticismo em relação à técnica. Por ser baseada em um toque extremamente leve, muitas pessoas acreditavam que Celina não estava realmente fazendo nada durante as sessões. No entanto, os resultados falavam por si. A eficácia da Terapia Sutil Biodinâmica se mostrou tão significativa que ela passou a ser chamada para tratar casos cada vez mais complexos.
Hoje, após formar mais de 70 alunos, a técnica conquistou reconhecimento e começou a ser solicitada diretamente por cavaleiros e proprietários de cavalos. Muitos deles pedem especificamente pela “Terapia Sutil” para o tratamento de seus animais, demonstrando a confiança e o impacto positivo que essa abordagem gerou no meio veterinário.
Casos de Sucesso e o Futuro da Terapia
Um caso marcante do uso da Terapia Sutil Biodinâmica envolveu um animal que apresentava vasoconstrição periférica, especialmente nas porções mais distais dos membros. Através da terapia, houve uma regulação do sistema nervoso autônomo, promovendo vasodilatação e equilíbrio homeostático, restaurando a circulação periférica adequada. O mais impressionante foi que a veterinária responsável pelo acompanhamento do caso utilizou um termógrafo para registrar o processo em tempo real. Através desse equipamento, foi possível visualizar a melhora da circulação sanguínea à medida que o tratamento era realizado. Esse caso foi posteriormente documentado em um relato escrito por Solange Mikail, reforçando a eficácia da Terapia Sutil Biodinâmica na recuperação de condições vasculares em animais.
A Terapia Sutil Biodinâmica continua a se expandir, ganhando novos praticantes e sendo aplicada em diferentes contextos. Com uma abordagem fundamentada na escuta sutil do corpo, a técnica representa um avanço significativo na forma como tratamos os animais, promovendo saúde e bem-estar por meio de um toque preciso e respeitoso.